
Em 1996, aos 26 anos, ela decidiu contar sua história no livro “Depois Daquela Viagem” e, ao falar sobre o assunto que ainda hoje é considerado tabu, Valeria se tornou um ícone de luta contra a doença.
Hoje com 43 anos, Valeria convive com a Aids há 27 anos. Confira abaixo a entrevista que fizemos com a escritora.
Você sofreu preconceito após revelar ter o vírus?
Acho que todo mundo passa por algum tipo de preconceito na vida. Com HIV também, claro. Mas, de uma maneira geral, o preconceito em relação à doença melhorou muito nos últimos 10 anos. Acredito que a melhor forma de lidar com preconceitos é se aceitar como se é. Ou seja, o primeiro preconceito que devemos vencer é o nosso mesmo. A partir dessa “autoaceitação”, tudo fica mais fácil.
Como é a sua vida (rotina)? Mudou muito desde o dia em que descobriu que tinha Aids? Existe alguma restrição?
Nos primeiros anos a aids era muito associada com a morte e vivíamos em eterno medo de adoecer. Com a chegada do coquetel em 1997, ela passou a ser tratada como uma doença crônica. Tive, então, que reaprender a fazer planos. Eu, que aos 20 anos havia abandonado uma faculdade por achar que não haveria tempo de terminá-la, voltei à universidade aos 33 anos, concluí jornalismo e em 2010 uma pós-graduação. Atualmente nosso grande desafio é lidar com os efeitos colaterais do coquetel. Um dos mais comuns é a lipodistrofia uma síndrome metabólica que altera a gordura no corpo e aumenta o colesterol. Por isso é tão importante fazermos exercícios físicos regularmente, termos uma alimentação balanceada e de preferência evitar bebidas alcoólicas e não fumar.
O seu livro “Depois Daquela Viagem” te ajudou de alguma forma a conviver melhor com a doença?

Você acha que seu livro encorajou outros portadores da Aids de alguma maneira?
Não esperava tanto sucesso, pois enquanto estava escrevendo nem sabia se continuaria viva para acabá-lo. Acho que ele vem ajudando, sim, muitos soropositivos, ou mesmo quem não tem o vírus, a lidar melhor com o tema. A adoção dele nas escolas também vem sendo muito importante nesses 15 anos, para tratar de assuntos, não só como a Aids, mas sexualidade, adolescência, prevenção... Agora, então, que o “Depois Daquela Viagem”, traduzido para o espanhol vem sendo adotado em escolas por toda a América Latina, vemos o quanto o livro ainda pode contribuir nessa área.
Qual foi a sua maior dificuldade em todos esses anos?
Acho que, a princípio, me convencer a tomar remédios, na época em que só tinha o AZT e ele fazia efeito por no máximo 1 ano. A questão de planejamento, também foi complicada. No início, não podendo planejar nada e depois tendo que reaprender.
Foi difícil se relacionar? Você costumava conversar já nos primeiros encontros com o parceiro a respeito?
Essa foi outra questão a se aprender. Eu sempre preferi abrir o jogo logo de cara. Mas tenho muitos amigos que preferem contar só se a coisa fica séria.
Você se casou? Teve filhos?
Em 1997 conheci um austríaco numa viagem à Nova Zelândia. Ele aceitou o fato de eu ter HIV e começamos a namorar. Optamos por não ter filhos. Pois em relação ao HIV, há anos já há maneira de controlar a infecção de mãe para o bebê com os remédios. Ficamos juntos por 12 anos. Mas nos separamos em 2013.
Acredita que o assunto Aids ainda seja um tabu?
Para muita gente ainda é um tabu, apesar de o acesso à informação ter melhorado. Para você ter uma ideia, ainda hoje, a maioria das pessoas que conheço que vive com o vírus não conta abertamente que tem. Ou por medo de ser isolado, descriminado, ou por medo de preocupar os entes queridos.
Como é lidar com a Aids no Brasil? Há acesso fácil a medicamentos?
O coquetel, no Brasil, é distribuído gratuitamente pelo SUS a qualquer paciente que precise. É claro que na zona urbana e nas grandes cidades as coisas tendem a funcionar melhor.
Muita gente escreve contando que descobriu ter a doença, como você lida com isso?
Sempre procuro ajudar, dando dicas de quem já vive com o vírus há 27 anos. Em primeiro lugar, que desassocie a doença da morte. Pois é nisso a primeira coisa que as pessoas ainda pensam hoje, quando se descobrem soropositivos. Em segundo, que busque ajuda e informação. Encontre médicos, psicólogos e grupos de apoio em quem possa confiar. Tente contar com a ajuda de amigos e familiares, se possível. Tome a medicação corretamente quando for indicado e faça planos, pois vai precisar deles.
Qual a importância em sua opinião do Dia Mundial de Luta contra a Aids?
Ter um dia no ano para a mídia e a sociedade s debater o tema. Apesar de que isso deveria ser feito constantemente, principalmente com educação sexual contínua nas escolas.
via - Catraca Livre
Há dez anos tive a oportunidade de ler esse livro e digo que foi um dos melhores que já li. Ao contrário do que a mídia diz, o livro que não te acrescenta conteúdo não serve de nada, mesmo que esteja entre os "Dez Mais". Me esclareceu muitas coisas a respeito do assunto e pude então desmistificar e desfazer os meus preconceitos.
Muito obrigado pela coragem Váleria!
Nenhum comentário:
Postar um comentário