quinta-feira, 31 de março de 2016

Coração Envenenado - Um Fragmento de Dee Dee Ramone


Nascido nos Estados Unidos e criado na Berlim pós-guerra, Douglas Calvin não nasceu para morrer lá, e sim,
para se tornar o pai do Punk.

Aos 14 anos de idade após viver o inferno na Alemanha com uma mãe alcoólica e um pai militar, Dee Dee muda-se para os Estados Unidos com a mãe e a irmã. Sem perspectiva de nada, cheirando cola e sem um lar de verdade, Dee Dee busca uma saída daquele mundo.
Aos 16 anos, apenas com o peito cheio raiva e sem nenhuma formação musical, eis que junto com outros três amigos tão fudidos como ele, criam o dedo-médio da música, o Punk Rock. Com músicas rápidas e letras cruas, power chords e atitude os Ramones mudaram a forma de se fazer música.

Dee Dee no Hotel Chelsea,
onde morou por um tempo.
Dee Dee sempre dizia que era um milagre ele ainda estar vivo. Levando em consideração que praticamente todos os seus amigos de farra haviam sido encontrados mortos depois de overdoses ou assassinados. Era só uma questão de tempo até a sua vez chegar.

Viciado em todo tipo de droga, desiludido com os companheiros de banda e com a vida, Dee Dee em 1980 abandona as gravações do disco End of Century. Dee Dee nunca soube quem gravou as linhas de baixo nesse disco. O produtor desse disco Phil Spector dizia que apenas Joey tinha algum talento. Em sua autobiografia, Johnny Ramone disse que ele e Marky Ramone também abandonaram as gravações desse disco logo após a saída de Dee Dee.

Em 1989, Dee Dee grava Brain Drain, seu último disco com os Ramones. A partir daí ele continuou de fora, apenas escrevendo canções para a banda. Segundo ele era uma forma de conseguir grana.
Após sair dos Ramones Dee Dee lançou um disco de Hip-Hop sob o nome de Dee Dee King. O disco não agradou o público e muito menos a crítica, que apenas o esperava colocar a cara na rua pra lhe detonar. The Crusher, uma das músicas desse disco, entrou no último disco dos Ramones.

Em 1992, Dee Dee foi preso por porte de maconha. Ele mesmo disse que achou legal a foto dele que saiu com a manchete no jornal. Estava com uma cara de louco, psicopata. Para sair da cadeia, vendeu os direitos autorais das músicas "Poison Heart", "Strength To Endure" e "Main Man" para poder pagar a fiança. As músicas foram vendidas aos empresários dos Ramones, que aproveitaram para gravá-las.

Bárbara e Dee Dee
Dee Dee viajou para o Brasil e na mesma época os Ramones também foram. Depois ele foi para a Argentina, terra de sua segunda esposa Bárbara Zampini, os Ramones também estiveram lá. Dee Dee disse ter ido falar com os ex-companheiros de banda no hotel onde eles se encontravam, Marky estava dando autógrafos na porta mas fingiu não ter visto Dee Dee e entrou. Marky alega que não é verdade.
Depois disso Dee Dee e a esposa foram morar um tempo na Europa, os Ramones apareceram por lá também. Estavam seguindo ele?

Em Abril de 2002, os Ramones entraram para o Salão da Fama do Rock n' Roll. Dee Dee pronunciou com as seguintes palavras: "Eu gostaria de me parabenizar, agradecer a mim mesmo e dar um tapinha nas minhas próprias costas. Obrigado Dee Dee, você é realmente maravilhoso, eu te amo." Dois meses e meio depois, Dee Dee foi encontrado morto atrás do sofá de sua casa em Hollywood, por volta das 21 horas, por sua esposa. Alega-se que foi causada por uma overdose acidental de heroína, companheiros de Dee Dee dizem que fazia oito anos que ele não usava heroína e seu corpo tinha se despreparado para recebê-la novamente.

Autor de sucessos como "Blitzkrieg Bop", "Pet Sematary", "Poison Heart", "53rd & 3rd", "The Crusher" e "Born to Die in Berlin". Dee Dee, o garoto desajustado, criou um lugar para todos os outros garotos desajustados estar. No Punk Rock ele encontrou o seu lugar de honra e tornou-se uma lenda.

Em 1997, depois da separação dos Ramones, com Veronica Kofman como colaboradora, Dee Dee lançou sua autobiografia: "Coração Envenenado - Minha Vida Com Os Ramones".


PDF - Coração Envenenado

terça-feira, 29 de março de 2016

O Louco


"Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim: um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!” Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!”. Olhei para cima, pra vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, bendito os ladrões que roubaram minhas máscaras!” Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."

O Louco , Khalil Gibran