domingo, 10 de abril de 2016

Alexander Supertramp: Na Natureza Selvagem


"Gostaria de repetir o conselho que lhe dei antes: você deveria promover uma mudança radical em seu estilo de vida e fazer corajosamente coisas em que talvez nunca tenha pensado, ou que fosse hesitante demais para tentar.

Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito do homem que um futuro seguro.

A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências [..]

Você está errado se acha que a alegria emana somente ou principalmente das relações humanas. Deus a distribuiu em toda a nossa volta. Está em tudo ou em qualquer coisa que possamos experimentar. Só temos de ter a coragem de dar as costas para nosso estilo de vida habitual e nos comprometer com um modo de vida não-convencional.

O que quero dizer é que você não precisa de mim ou de qualquer outra pessoa para pôr esse novo tipo de luz em sua vida. Ele está simplesmente esperando que você o pegue e tudo que tem a fazer é estender os braços. A única pessoa com quem você está lutando é com você mesmo [..]

Espero que na próxima vez que eu o encontrar você seja um homem novo, com uma grande quantidade de novas experiências na bagagem. Não hesite nem se permita dar desculpas. Simplesmente saia e faça. Simplesmente saia e faça. Você ficará muito, muito contente por ter feito."

(Carta de Chris McCandless para Ron Franz, Abril de 1992)

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Zona Proibida Entrevista: Filipe Catto

Cantor, compositor e intérprete. Aos 28 anos de idade Filipe Catto é um fôlego à música brasileira. Recentemente lançou seu mais novo disco intitulado Tomada, sucesso total entre os fãs e a crítica. Do norte ao sul do país Filipe arrasta multidões e lota teatros, praças e ginásios. Com humildade, carinho e gentileza ele conquista mais e mais adoradores. Confira agora uma entrevista feita pelo Zona Proibida com ele, Filipe Catto.


Zona Proibida - Tomada, seu disco mais recente, estreou em quinto lugar no iTunes em menos de 24 horas. Suas apresentações são quase sempre de ingressos esgotados. Como é pra você, com uma carreira tão jovem, já ter esse reconhecimento e carinho do público?

Filipe Catto - Pra mim é tudo muito gratificante, especialmente pelo privilégio de trabalhar com o que eu amo. Me sinto uma pessoa bem sucedida, realizada, porque fazer música em qualquer lugar do mundo é muito desafiador. Poder viver a música no meu dia a dia profissionalmente é uma dádiva, luxo.

ZP - Uma das coisas que me chamam a atenção no seu trabalho são as releituras que você faz. Como por exemplo "Garçom" de Reginaldo Rossi, "20 e poucos anos" de Fábio Jr., "Quem é?" da Simone. Em algum momento você pretende lançar um disco apenas de releituras?

FC - Não exclusivamente, porque eu acho que estas músicas existem dentro de um contexto, elas precisam estar dentro de um espetáculo, de um disco para que elas tenham contrapontos e tenham seu brilho realçado, Quando faço o repertório de um projeto, gosto de misturar gêneros, ideias, canções, e isso faz com que elas se valorizem. O público tem todo direito de compilar essas gravações como bem entender, mas da minha parte prefiro sempre que o conceito artístico do repertório seja evidenciado.

Emanuelle Araújo, Filipe e Arnaldo Antunes

ZP - É de conhecimento geral que a Cássia Eller é uma de suas maiores influências artísticas e pessoais. Recentemente você participou ao lado de outros grandes artistas da homenagem realizada a ela no Rock in Rio. Como foi fazer parte desse momento?

FC - Foi um sonho realizado, até agora parece mentira. Foi lindo poder homenagear Cássia ao lado de pessoas tão bacanas.

ZP - "Roupa do Corpo", "Juro por Deus", "Crime Passional" e "Gardênia Branca" são algumas de suas composições que possuem o protagonismo feminino como abordagem. Gostaria que você falasse um pouco sobre a importância da música na luta por direitos iguais, empoderamento, discussões de classe e gênero.

FC - Eu acho que a música tem esse poder, e essas questões são nossas. Acho fundamental que a gente se apodere do discurso, mas acima de tudo eu quero falar em primeira pessoa das minhas questões. Acho bacana poder explorar como interprete todas essas nuances, e fazer o público refletir, se libertar, interagir com esses temas.

ZP - Em suas apresentações, qual é a canção que te conecta à alma do mundo e ao mesmo tempo te desconecta até de você mesmo? Qual é a canção que não pode faltar em seus shows?

FC - Depende muito do momento. As canções são seres independentes. Elas que governam a mim, não o contrário. Tem momentos em que uma canção ganha muito significado, e isso depende do que está acontecendo na sua vida. Mas definitivame adoração e saga são duas canções que sempre estão no show, porque são um elo de ligação poderoso com o público. Adoro essas, assim como Ave de prata, mergulho, roupa do corpo, dias e noites, partiu... Não consigo escolher (risos).

ZP - Com o advento das mídias sociais o abismo que existia entre artistas e fãs praticamente desapareceu. Hoje qualquer pessoa pode mandar uma mensagem pra seu artista favorito instantaneamente. Como você enxerga essa aproximação?

FC - Acho maravilhoso e natural, é para onde nossa cultura está indo, para essa pessoalidade em todos os setores. Eu tenho uma relação bacana com as redes, não sou adicto, mas sempre tento atualizar o que posso. Por outro lado, levo muito a sério o contato pessoal do show, de poder entregar tudo ali de verdade, olhar para as pessoas de verdade, e não só através das redes.

Tomada, novo disco de Filipe Catto
ZP - Suas parcerias com a cantora Yusa e a pianista Célia Rocha renderam grandes momentos. Suas apresentações em Portugal e Argentina foram fenômenos. Para o futuro, quais são os seus projetos?

FC - Quero ir para o mundo, cantar, conhecer gente, me entregar para as canções, entrar em contato com o novo. Pra mim a vida é essa mudança constante, essa busca de estar sempre dentro do presente, vivendo, fazendo conexões. O maior patrimônio que a gente tem são as nossas relações. De certa forma, minha vontade enquanto artista é poder ir mais fundo nessa relação com o público, não ficar apenas na superfície. Quero ir até o fundo do que posso, como diz a música Mergulho.

ZP - Quais músicas não podem faltar na sua playlist?

FC - Dreams, do Fleetwood Mac. Killing Moon, do Echo and the Bunnymen. Stones, Elis e PJ Harvey.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Coração Envenenado - Um Fragmento de Dee Dee Ramone


Nascido nos Estados Unidos e criado na Berlim pós-guerra, Douglas Calvin não nasceu para morrer lá, e sim,
para se tornar o pai do Punk.

Aos 14 anos de idade após viver o inferno na Alemanha com uma mãe alcoólica e um pai militar, Dee Dee muda-se para os Estados Unidos com a mãe e a irmã. Sem perspectiva de nada, cheirando cola e sem um lar de verdade, Dee Dee busca uma saída daquele mundo.
Aos 16 anos, apenas com o peito cheio raiva e sem nenhuma formação musical, eis que junto com outros três amigos tão fudidos como ele, criam o dedo-médio da música, o Punk Rock. Com músicas rápidas e letras cruas, power chords e atitude os Ramones mudaram a forma de se fazer música.

Dee Dee no Hotel Chelsea,
onde morou por um tempo.
Dee Dee sempre dizia que era um milagre ele ainda estar vivo. Levando em consideração que praticamente todos os seus amigos de farra haviam sido encontrados mortos depois de overdoses ou assassinados. Era só uma questão de tempo até a sua vez chegar.

Viciado em todo tipo de droga, desiludido com os companheiros de banda e com a vida, Dee Dee em 1980 abandona as gravações do disco End of Century. Dee Dee nunca soube quem gravou as linhas de baixo nesse disco. O produtor desse disco Phil Spector dizia que apenas Joey tinha algum talento. Em sua autobiografia, Johnny Ramone disse que ele e Marky Ramone também abandonaram as gravações desse disco logo após a saída de Dee Dee.

Em 1989, Dee Dee grava Brain Drain, seu último disco com os Ramones. A partir daí ele continuou de fora, apenas escrevendo canções para a banda. Segundo ele era uma forma de conseguir grana.
Após sair dos Ramones Dee Dee lançou um disco de Hip-Hop sob o nome de Dee Dee King. O disco não agradou o público e muito menos a crítica, que apenas o esperava colocar a cara na rua pra lhe detonar. The Crusher, uma das músicas desse disco, entrou no último disco dos Ramones.

Em 1992, Dee Dee foi preso por porte de maconha. Ele mesmo disse que achou legal a foto dele que saiu com a manchete no jornal. Estava com uma cara de louco, psicopata. Para sair da cadeia, vendeu os direitos autorais das músicas "Poison Heart", "Strength To Endure" e "Main Man" para poder pagar a fiança. As músicas foram vendidas aos empresários dos Ramones, que aproveitaram para gravá-las.

Bárbara e Dee Dee
Dee Dee viajou para o Brasil e na mesma época os Ramones também foram. Depois ele foi para a Argentina, terra de sua segunda esposa Bárbara Zampini, os Ramones também estiveram lá. Dee Dee disse ter ido falar com os ex-companheiros de banda no hotel onde eles se encontravam, Marky estava dando autógrafos na porta mas fingiu não ter visto Dee Dee e entrou. Marky alega que não é verdade.
Depois disso Dee Dee e a esposa foram morar um tempo na Europa, os Ramones apareceram por lá também. Estavam seguindo ele?

Em Abril de 2002, os Ramones entraram para o Salão da Fama do Rock n' Roll. Dee Dee pronunciou com as seguintes palavras: "Eu gostaria de me parabenizar, agradecer a mim mesmo e dar um tapinha nas minhas próprias costas. Obrigado Dee Dee, você é realmente maravilhoso, eu te amo." Dois meses e meio depois, Dee Dee foi encontrado morto atrás do sofá de sua casa em Hollywood, por volta das 21 horas, por sua esposa. Alega-se que foi causada por uma overdose acidental de heroína, companheiros de Dee Dee dizem que fazia oito anos que ele não usava heroína e seu corpo tinha se despreparado para recebê-la novamente.

Autor de sucessos como "Blitzkrieg Bop", "Pet Sematary", "Poison Heart", "53rd & 3rd", "The Crusher" e "Born to Die in Berlin". Dee Dee, o garoto desajustado, criou um lugar para todos os outros garotos desajustados estar. No Punk Rock ele encontrou o seu lugar de honra e tornou-se uma lenda.

Em 1997, depois da separação dos Ramones, com Veronica Kofman como colaboradora, Dee Dee lançou sua autobiografia: "Coração Envenenado - Minha Vida Com Os Ramones".


PDF - Coração Envenenado

terça-feira, 29 de março de 2016

O Louco


"Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim: um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!” Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!”. Olhei para cima, pra vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, bendito os ladrões que roubaram minhas máscaras!” Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual que nos compreende escraviza alguma coisa em nós."

O Louco , Khalil Gibran